Como declarou na segunda-feira (23/09), o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, considera a atual escalada no Líbano necessária "para defender o nosso povo contra o Hezbollah": "Precisamos neutralizar essas armas a fim de preparar o caminho para o retorno das comunidades do norte de Israel ao seu lar", afirmou.
Cerca de um ano atrás, quando a milícia xiita Hezbollah, apoiada pelo Irã, passou a bombardear a zona de fronteira no norte israelense, 60 mil israelenses tiveram que abandonar suas casas.
O Hezbollah é classificado como organização terrorista por diversos países, entre os quais os Estados Unidos e a Alemanha, enquanto a União Europeia enquadra seu braço armado como grupo terrorista. Seus integrantes argumentam que os mísseis lançados são em apoio ao Hamas, a organização terrorista da Faixa de Gaza que, em 7 de outubro de 2023, matou cerca de 1.150 em solo israelense e levou 250 como reféns. Por sua vez, o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, informa que desde então 41 mil palestinos foram vítimas das operações de retaliação israelenses.
Enquanto isso, cresce o número de vítimas no Líbano: ao todo, os ataques de Israel e as recentes explosões de aparelhos de comunicação e assassinatos de líderes do Hezbollah já resultaram em mais de 500 mortos e 1.640 feridos. O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, definiu a situação como "quase uma guerra plena".
Três objetivos das ofensivas de Israel no Líbano
Contudo, para Sanam Vakil, diretora do Programa para o Oriente Médio e o Norte da África do think tank Chatham House, sediado no Reino Unido, a atual operação militar e a perigosa escalada servem, sobretudo, como "justificativa ou acobertamento para a tentativa de Israel de levar de volta para o norte os seus cidadãos desalojados".
Na opinião da especialista, três objetivos impulsionam as atuais ofensivas israelenses no Líbano: "Primeiramente, Israel está tentando desconectar os fronts de Gaza e do Hezbollah em suas fronteiras. O país não conseguiu um cessar-fogo em Gaza nem um acordo de paz com o Hezbollah por causa de Gaza."
Enquanto isso, desde o 7 de Outubro, o assim chamado "Eixo de Resistência" – formado por países como o Irã e milícias como o Hezbollah, Hamas e os houthis do Iêmen, que consideram Israel e os EUA seus inimigos – tem se concentrado em unificar suas forças e pressionar Israel simultaneamente.
"Em segundo lugar", prossegue Vakil, "claro, Israel enfrenta uma ameaça de segurança perpétua por parte do Hezbollah no Líbano".
Em 2006, um mês de confrontos armados entre as duas partes – denominado Segunda Guerra do Líbano, após a Primeira entre 1982 e 1985 – terminou com a aceitação da Resolução 1.701 das Nações Unidas. As condições eram: cessar-fogo imediato; mobilização de tropas libanesas e forças de paz da ONU para o sul do Líbano; retirada das Forças de Defesa de Israel e do Hezbollah da área; assim como desarmamento da milícia xiita.
No entanto, o Hezbollah nem se retirou para o rio Litani, no Líbano, a cerca de 40 quilômetros da fronteira, nem entregou suas armas. Em vez disso, desde então multiplicou seu equipamento militar e contingente de combatentes treinados, com a ajuda do Irã.
Isso também alimenta temores de que no futuro a milícia possa sequestrar cidadãos israelenses, e "Israel está [mais uma vez] tentando forçar o Hezbollah a aceitar a Resolução 1.701 do Conselho de Segurança da ONU".
"Em terceiro lugar, com essa operação no Líbano, o foco sai de Gaza", complementa Vakil. Quase um ano após o início da guerra nesse território palestino, o foco internacional se deslocou, apesar da continuação dos combates e de 90 reféns ainda estarem em poder do Hamas.
"Israel não tem nenhuma estratégia para se retirar de Gaza e não deixou claro quais são seus planos para o 'dia seguinte', e decididamente não está falando de um processo [de paz] israelo-palestino." Assim, para a diretora da Chatham House, a guerra no Líbano é "uma distração para a ausência de estratégia em Gaza".
Aumenta pressão doméstica sobre Netanyahu
Nesse ínterim, a população israelense está cada vez mais impaciente, com pressão crescente para que Netanyahu alcance um cessar-fogo e garanta a devolução dos reféns.
"Do ponto de vista israelense, a pressão política interna é muito alta, e vem se intensificando de semana a semana", confirma o analista para o Oriente Médio e consultor de agências da ONU Lorenzo Trombetta, baseado em Beirute. Ele parte do princípio de que alcançar um consenso se tornou um passo-chave para o governo israelense, e um modo de obter isso poderia garantir a segurança do norte de Israel.
"Só que é difícil saber se Israel conseguirá. Quem sabe quando ou se vai começar uma operação de solo israelense? E de que modo reagiria o Irã, se o Hezbollah estivesse à beira da derrota total perante Israel?", questiona.
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