A cardiologista de 50 anos que foi vítima de violência doméstica no Bairro Fundinho, em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, disse que por diversas vezes teve uma arma apontada para a cabeça durante as agressões cometidas pelo marido, que é advogado.
No sábado (21), a médica denunciou as agressões à Polícia Militar (PM), que segundo ela, ocorriam há anos. No dia do registro, ela foi ferida com um soco no nariz e chutes nas costelas após ter um desentendimento com o marido sobre o horário de estudos do filho casal, de 11 anos.
"Estou com muito medo, foram anos de ameaças de morte, não sei te relatar quantas vezes tive uma arma apontada para mim. Com relação ao meu filho ele sempre ameaçou que caso alguém ficasse sabendo, ele iria sumir com meu filho. Dizia que se eu e meu filho morrêssemos ele iria ficar com tudo para ele", disse a cardiologista.
Ainda segundo a mulher, o marido também a proibia de ver a família, ameaçando matá-los.
Tenho pavor, estou perdida, sem saber o que fazer, estou fisicamente muito machucada, meu filho está sem poder ir para a escola, abalado pela cena que presenciou".
Agressões
No sábado (21), a cardiologista pediu para que o filho estudasse, porém, ele não queria. O marido se enfureceu com a insistência da mulher e partiu para cima dela com uma sequência de socos.
Em depoimento à PM, a médica contou que, enquanto a agredia, o homem repetia a frase 'Game-Over'. Durante toda ação o filho de 11 anos estava presente e ao ver que o pai não parava de bater na mãe, ele entrou na frente do homem e abraçou a cardiologista para tentar fazê-lo parar.
O advogado, então, pegou a criança pelo braço e a arrastou até as escadas, onde a mulher conseguiu retirar o filho dele e fugir.
"Ele sempre fazia isso, se aproveitava de quando eu estava no trabalho para gravar vídeos do meu filho dizendo que eu o agredia e os usava como ameaça. Se meu filho dissesse que não iria gravar, ele também apanhava".
A vítima ainda tentou pegar um celular para pedir ajuda, mas foi impedida pelo marido, que pegou os aparelhos dela e do filho e foi embora.
"Há anos eu sofro calada. Tenho até medo de falar porque quando fui ouvida pela polícia fui acusada de ser omissa em relação ao meu filho. Mas só eu sei o que vivi porque ele me dava motivos diariamente para temer o que ele seria capaz de fazer com meu filho e eu. E eu tentei, pedi para ele buscar ajuda psicológica, e apanhei por isso. Certa vez, disse que queria o divórcio, acabei com uma lesão na coluna", lembrou a médica.
Ao sair de casa, a cardiologista caminhou com o filho até a Praça Clarimundo Carneiro, também na área central de Uberlândia, onde pediu um celular emprestado em uma farmácia e pediu ajuda.
"Em seguida fomos para um posto policial para fazer o boletim de ocorrência. Eu pedi o tempo todo para tentar rastrear o telefone dele, pedi que fossem procurá-lo. Minha advogada mesmo informando a obrigação de ser solicitada a medida protetiva naquele momento ouviu que não poderiam fazer nada porque ele não estava preso", finalizou a cardiologista.
Ainda de acordo com ela, o marido tem porte de arma de fogo e a ameaçava e a agredia durante todo o relacionamento. O prontuário, realizado durante atendimento na Unidade de Atendimento Integrado (UAI) do Bairro Presidente Roosevelt indicou lesões na boca, nariz, dente e outras parte do corpo.
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O que diz a OAB
A OAB de Uberlândia emitiu, à TV Integração, uma nota a respeito do caso.
"A OAB Uberlândia repudia todo tipo de violência em especial a violência praticada contra a mulher.
A OAB Uberlândia defende que toda violência praticada contra a mulher deva ser rigorosamente apurada e, observado as garantias constitucionais da ampla defesa e do contraditório, os culpados, devam ser exemplarmente punidos.
A OAB Uberlândia apoia o Projeto de Lei nº 4266, de autoria da Senadora Margareth Buzetti (PSD/MT), que propõe o aumento das penas para os crimes praticados contra as mulheres.
No caso em questão, onde se noticia que um advogado inscrito nos quadros da OAB Uberlândia está sendo procurado pela polícia, sob a suspeita de ter agredido violentamente a esposa, na presença do filho menor, depois de uma discussão, a OAB informa que repudia com veemência qualquer comportamento violento e criminoso praticado por seus inscritos e que determinou o acompanhamento do caso pela COMISSÃO ESPECIAL DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA GRUPOS VULNERÁVEIS, o que inclui a violência doméstica para apurar se a conduta do suposto agressor viola as regras da deontologia profissional, haja vista que a Lei impõe ao Advogado manter-se em conduta compatível com a dignidade e o decoro da profissão, podendo, se for o caso, ensejar um Processo Administrativo Disciplinar, que em tese, poderá acarretar desde uma advertência, multa, suspensão ou até mesmo a cassação do seu registro profissional. Destaca-se que o Conselho Pleno do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil editou a Súmula 09 dispondo que a prática de violência doméstica conceituada na Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher – “Convenção de Belém do Pará” constitui fato apto para comprovar a falta de idoneidade moral, sendo capaz de barrar a inscrição do bacharel em Direito nos quadros da OAB."
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