O governo brasileiro anunciou a suspensão temporária da concessão de novos vistos temporários para trabalhadores chineses destinados à construção da fábrica da montadora de veículos elétricos BYD em Camaçari, na Bahia. A decisão foi tomada após uma operação do Ministério Público do Trabalho (MPT) que resgatou 163 operários em condições análogas à escravidão.
A força-tarefa, realizada no dia 23 de dezembro, identificou trabalhadores vivendo em alojamentos precários, sem colchões adequados, com banheiros insuficientes e condições de higiene inadequadas. Além disso, foi constatado que os passaportes dos operários haviam sido confiscados, e parte de seus salários estava sendo retida, configurando práticas de trabalho forçado.
Em resposta, a BYD anunciou a rescisão imediata do contrato com a construtora terceirizada responsável, a Jinjiang Construction Brazil Ltda, e a transferência dos trabalhadores resgatados para hotéis na região. A montadora chinesa afirmou não tolerar "desrespeito à lei brasileira e à dignidade humana" e está colaborando com as autoridades para apurar os fatos.
O visto de trabalho concedido aos trabalhadores chineses é do tipo Vitem V, destinado a estrangeiros com qualificações específicas ou experiência compatível com as atividades a serem realizadas no Brasil. A suspensão da emissão desses vistos foi determinada pelo Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) em instrução enviada aos postos diplomáticos brasileiros na China, com o objetivo de proteger o processo investigativo em andamento.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública, responsável pela análise da documentação e concessão dos vistos de trabalho, informou que está acompanhando as fiscalizações do MPT e do Ministério do Trabalho. Caso a apuração comprove o desrespeito à legislação migratória, incluindo o vínculo trabalhista entre a empresa e os empregados migrantes, as autorizações de residência concedidas serão canceladas, conforme prevê a legislação brasileira.
A situação gerou repercussão internacional, com autoridades chinesas também investigando o caso. A Jinjiang Construction negou as acusações, atribuindo-as a mal-entendidos culturais e de tradução, e afirmou que seus funcionários se sentiram insultados pela caracterização de "escravizados".
Este incidente levanta preocupações sobre as condições de trabalho de operários estrangeiros em projetos de grande escala no Brasil, especialmente em setores como a construção civil, onde práticas de trabalho análogas à escravidão ainda são identificadas. As autoridades brasileiras reforçam a necessidade de fiscalização rigorosa para garantir os direitos dos trabalhadores e a conformidade com a legislação trabalhista e migratória.
A investigação continua em andamento, e as autoridades competentes estão comprometidas em apurar os fatos e responsabilizar os envolvidos, assegurando a proteção dos direitos dos trabalhadores e a integridade das relações de trabalho no país.
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